Municípios que mais arrecadam com mineração têm famílias em situação de extrema pobreza
Politica
Publicado em 15/07/2022

Parauapebas (PA) é o maior arrecadador do país, com mais de R$ 2,4 bilhões em recolhimentos da CEFM.

 

A reportagem é de Mariana Castro, publicada por Brasil de Fato

 

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mineração é uma atividade de contrastes. Ao mesmo tempo em que gera lucros altos e arrecadação para os municípios, causa pobreza e impactos ambientais importantes.

 

Essas contradições da mineração são tema de um levantamento do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração, que no ano passado criou o ”Projeto De Olho na CFEM”, sigla que se refere à Compensação Financeira pela Exploração Mineral.

 

O projeto tem como objetivo estimular e ajudar a população de comunidades impactadas a compreender o que é a CFEM, onde esse recurso está no orçamento das prefeituras e de que maneira poderiam ser inseridos nas discussões de utilização dos recursos para garantia de direitos e redução da pobreza.

 

"O modelo mineral é concentrador de renda. Praticamente toda riqueza gerada a partir da extração de recursos minerais remunera os acionistas e pessoas fora do município e fora do país, ou seja, não remunera a economia local. Não cabe à CEFM corrigir esses problemas, mas o uso desse recurso poderia ajudar a mitigar esses problemas. Poderia estimular a economia local e contribuir para a redução da pobreza", avalia Larissa Alves, uma das pesquisadoras do projeto.

 

Dados de recursos arrecadados contrastam com número de famílias em extrema pobreza nos municípios. (Imagem: De Olho na CEFM | Brasil de Fato)

 

O projeto aponta que entre os três municípios que mais arrecadaram recursos da CEFM em 2021, o campeão é Parauapebas (PA), com mais de R$ 2,4 bilhões em recolhimento. Ao mesmo tempo, é a cidade com mais famílias em situação de extrema pobreza entre eles: 15.607.

 

Em Parauapebas, conhecido como o município mais minerado do país, a população conta com apenas 45,7% de esgotamento sanitário adequado e somente 27,3% dos moradores do município tem emprego formal.

 

Depois de Parauapebas estão os municípios Canãa dos Carajás, também no estado do Pará, em segundo lugar, com recolhimento de mais de R$ 1,8 bilhões, seguido por Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, com mais de R$ 668 milhões.

 

Os pesquisadores avaliam que a disparidade entre a arrecadação e a quantidade de famílias em situação de extrema pobreza está relacionada, entre outros fatores, à falta de transparência no uso dos recursos e na falta de políticas públicas voltadas para benefícios destinados à população mais carente.

 

"O que mais tem chamado a nossa atenção durante todo o período de pesquisa é a falta de transparência na utilização da CEFM. Apesar de haver leis como a 13.540 de 2007, que define que as prefeituras devem tornar público como esse recurso vem sendo utilizado, isso não vem acontecendo", explica Larissa.

 

O projeto alerta ainda que se os recursos minerais são bens da União, a sua exploração e os seus lucros devem estar atrelados a benefícios para todo o país, em especial para as comunidades impactadas.

 

Para isso, os pesquisadores apostam em formação nas escolasmovimentos e organizações sociais, a fim de que a própria população possa se organizar coletivamente e exigir que estes recursos sejam usados na garantia de direitos.

 

"Depois desse mapeamento, creio que é possível direcionar esse recurso, por exemplo, para uma política que valorize a economia local, independente da mineração, que possa gerar renda para essas famílias. Mais investimentos em saúdeeducação em determinadas localidades, entre outras ações que as comunidades, depois de consultadas, demandarem", diz a pesquisadora.

 

A iniciativa é desenvolvida em conjunto com o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS) e em parceria com Justiça nos Trilhos e Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

 

Todo material produzido pelo grupo de pesquisadores do "Projeto De Olho na CEFM" pode ser acessado no site do Comitê em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, incluindo cinco cartilhas referentes aos municípios Parauapebas (PA), Marabá (PA), Canaã dos Carajás (PA), Alto Horizonte (GO) e Açailândia (MA).

 

Contraste

 

Em maio de 2022, a Prefeitura de Parauapebas virou manchete nacional por apoiar um dos maiores churrascos do mundo. O evento ofereceu vinte toneladas de carne em comemoração ao aniversário de 34 anos da cidade, organizado pelo Siproduz (Sindicato dos Produtores Rurais de Parauapebas).

 

O evento chamou atenção pelo contraste entre os recursos gastos na festa, em especial por conta do alto preço das carnes nos frigoríficos de todo o país, e os níveis de insegurança alimentar e de extrema pobreza registrados no município.

 

A equipe do Brasil de Fato tentou contato com a Prefeitura de Parauapebas sobre a utilização dos recursos e denúncias de falta de transparência, mas não recebeu resposta até a conclusão desta matéria.

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