Famílias agroextrativistas, instituições parceiras, colaboradores e comunidades formam a Rede Jalapão de Produtos Artesanais cujo interesse é preservar o Cerrado e gerar renda às famílias
Lidiane Moreira/Governo do Tocantins
Do tupi, jatobá significa árvore com frutos duros. Também é a árvore da meditação, posto que povos indígenas a usavam em momentos meditativos. Para comunidades tradicionais, o jatobazeiro é considerado um patrimônio sagrado. Sua farinha é bem consumida em comunidades rurais in natura, mas também pode ser usada para preparar bolos, pães, biscoitos ou batida com frutas para um preparo de vitaminas. Rico em ferro, auxilia no tratamento de anemia e sua casca é aproveitada para chá, pesquisas têm indicado propriedades medicinais. Também é rico em vitaminas, sendo destacado o alto teor de cálcio e fibras. De crescimento lento, o jatobazeiro alcança até 40 metros de altura, o tronco tem quase um metro de diâmetro, sua madeira é uma das mais valiosas. Entre os meses de julho e setembro é o período do ano em que o fruto amadurece.
No Tocantins, a Rede Jalapão de Produtos Artesanais é composta por famílias agroextrativistas de Mateiros, São Félix do Tocantins e Novo Acordo, instituições parceiras, colaboradores e comunidades que voltam interesses à conservação do Cerrado. A rede surgiu em 2006 com a proposta de estimular o uso sustentável dos recursos naturais do Cerrado e assim contribuir para sua conservação, e propor alternativas de geração de renda para que as famílias da Área de Proteção Ambiental do Jalapão (APA do Jalapão) e entorno Parque Estadual do Jalapão (PEJ) tenham melhores condições de vida.
As comunidades que residem nesta região mantêm modos de vida tradicionais praticando também o extrativismo e produção artesanal a partir de frutos do Cerrado e talos de buriti que representam uma importante alternativa de renda e são considerados elementos estratégicos para o desenvolvimento sustentável.
Técnicos e brigadistas do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), da APA e do PEJ mantêm apoio às famílias desde a coleta, beneficiamento e comercialização dos produtos, cumprindo compromissos firmados com as comunidades e oportunizando formas de melhorar a renda das famílias que vivem no entorno do Parque Estadual do Jalapão. Rejane Ferreira Nunes, supervisora da APA do Jalapão, explica que o período entre os meses de novembro e início de dezembro deste ano foi dedicado a coleta e beneficiamento do jatobá na comunidade Fazenda Nova, da família do senhor José Batista dos Santos, 'seu' Zé Mininim, como é mais conhecido o extrativista beneficiário da Rede Jalapão.
“Entre os principais produtos que as famílias trabalham estão as cestarias de buriti, doces de caju e buriti, óleos de buriti, pequi, piaçava e macaúba, castanhas de caju, pequi e baru e farinha de jatobá”, ponderou a supervisora ao informar sobre os locais de vendas do que é produzido: centros de atendimento ao turista, associações locais e nas residências das famílias.
Para o senhor Zé Mininim, de 54 anos, a aproximação com o órgão permitiu o ganho de aprendizados sobre o trabalho com o agroextrativismo, um benefício às famílias da região. “O Naturatins incentiva e dá apoio na colheita do jatobá. Tem eu na região da Fazenda Nova, têm outras famílias da região de Mateiros, na região da Campina, da Taboca. Todos esses foram com o apoio e incentivo do Naturatins que veio para o Jalapão, não só para trabalhar para o governo e também para a população, para a comunidade que passou a ter a compreensão e o interesse de aprender, de entender e valorizar o que o nosso Cerrado tem. Hoje posso dizer que temos um Cerrado protegido”, disse o extrativista ao destacar o combate ao fogo, apoio à colheita e conquista de mercado. “Tenho 16 anos de mercado do Cerrado. O pessoal do Naturatins capacitou, me ajudou a organizar, ter embalagem, lugar de vender. Tenho muito a agradecer a todos os membros do Naturatins. Tanto ganhamos como preservamos”, finalizou.
Sobre a APA do Jalapão
A APA Jalapão possui cerca de 461.730 hectares. Ocupa terras dos municípios de Mateiros, Ponte Alta e Novo Acordo. Foi criada no dia 31 de julho de 2000 pela Lei e nº 1.172 e pertence à categoria de Unidades de Conservação (UC) de uso sustentável.
A APA possui atributos naturais e culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações e tem importância na proteção da diversidade biológica, em ordenar o processo de ocupação humana e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Está estrategicamente localizada entre três importantes UCs de proteção integral da região: Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e Parque Estadual do Jalapão.