O pastor César Belluci, líder da Sete Church, admitiu ter recebido um carro BMW e um relógio Rolex do empresário Felipe Macedo Gomes, investigado pela Polícia Federal por participação no esquema conhecido como “Farra do INSS”, que teria causado prejuízos milionários a aposentados e pensionistas em todo o país.
Segundo o religioso, os objetos foram entregues como “ofertas pessoais” e não como doações institucionais à igreja. “Ele se desligou da comunidade, mas depois retornou e pediu desculpas. Foi quando tentou reaver o que havia doado”, relatou Belluci. O pastor afirma que devolveu o relógio, mas que o carro segue registrado em nome de uma empresa ligada ao empresário.
De acordo com registros consultados pela reportagem, a BMW X3 azul, modelo 2013/2014, continua vinculada a uma das companhias de Gomes. O veículo é avaliado em cerca de R$ 80 mil, segundo a Tabela Fipe. Já relógios Rolex do mesmo modelo são encontrados na internet por valores que variam entre R$ 30 mil e R$ 70 mil.
Belluci relatou ainda que, após o retorno do empresário à igreja, o Rolex foi novamente entregue a ele e posteriormente repassado a outra pessoa. “Guardei por um tempo e depois abençoei alguém com o presente. Nunca tive intenção comercial com aquilo”, disse.
A repercussão do caso cresceu depois da divulgação de um vídeo de culto realizado em junho de 2024, em que Felipe Gomes atribui o sucesso de seus negócios à “mão de Deus” e ao pagamento do dízimo à Sete Church. A gravação reacendeu suspeitas de que a igreja pudesse estar sendo usada para lavagem de recursos obtidos no esquema do INSS.
Belluci, porém, nega qualquer irregularidade. “A igreja não é instrumento para lavar dinheiro. As contribuições são voluntárias e cada fiel decide o que deseja ofertar”, afirmou.
O pastor disse ainda que não sabia em que ramo o empresário atuava e que o recebia “como qualquer outro membro”. “A igreja é um lugar de acolhimento, um hospital espiritual. Todos são bem-vindos, independentemente de seus erros ou acertos”, declarou.
O empresário e o esquema dos R$ 700 milhões
A investigação da Polícia Federal aponta Felipe Macedo Gomes, 35 anos, como um dos principais articuladores da “Farra do INSS”. Ele é presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), uma das quatro associações suspeitas de realizar descontos indevidos em aposentadorias, mediante o pagamento de propina a servidores públicos.
Além da ABCB, o grupo comandado por Gomes controlava as entidades Master Prev, ANDAPP e AASAP. Juntas, essas associações movimentaram cerca de R$ 700 milhões, segundo estimativas da PF.
Documentos mostram que a Amar Brasil firmou convênio com o INSS em agosto de 2022, nos últimos meses do governo Bolsonaro. Durante sua gestão, a Amar Brasil saltou de poucas centenas para quase 200 mil filiados em tempo recorde. Auditorias da Controladoria-Geral da União (CGU) indicam que o grupo mantinha empresas de marketing digital e captação de crédito, que ofereciam simultaneamente empréstimos consignados e descontos associativos — o que, segundo investigadores, configurava uma “dupla engrenagem de fraude”.
O cruzamento de dados da CGU também aponta que a fintech RendBank, controlada por Gomes, recebeu repasses diretos das contas das associações, em um modelo que misturava negócios financeiros, entidades sociais e corrupção ativa.
Fonte: Zé Barbosa Junior (Revista Fórum)