A Estrada de Ferro Carajás (EFC), operada pela Vale, anunciou uma série de medidas para ampliar a descarbonização da malha ferroviária que corta o Norte e o Nordeste do país
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a ferrovia vai elevar de 14% para 25% a proporção de biodiesel utilizado nas 297 locomotivas que circulam entre São Luís (MA) e Parauapebas (PA), além de estrear no Brasil o uso de trens híbridos — movidos a diesel e baterias.
Com cerca de mil quilômetros de extensão, a EFC completa 40 anos de operação no transporte de cargas em 2025 e deve atingir a mesma marca no transporte de passageiros no ano seguinte. A ferrovia percorre 27 municípios nos dois estados e transportou, apenas em 2023, mais de 176 milhões de toneladas de minério de ferro, 10,9 milhões de toneladas de grãos e 2,1 bilhões de litros de combustível, além de registrar recorde no transporte de passageiros: 423 mil viajantes.
O avanço na agenda ambiental foi possível graças a um novo acordo firmado com a Wabtec Corporation, que prevê a aquisição de 14 locomotivas da linha Evolution, fabricadas em Contagem (MG). As novas unidades permitirão elevar a mistura de biodiesel já em 2026. Segundo João Silva Junior, diretor de operações da ferrovia, os testes iniciais foram animadores.
“Nosso fornecedor também já fez testes de bancada, principalmente no nosso motor diesel, compressores, turbinas, para a gente já ver o efeito. O grande ponto nosso era [a preocupação com] a perda de potência. E aí no teste de bancada passou completamente”, explicou o executivo.
Apesar de o motor suportar até 50% de biodiesel, novas análises em condições reais de operação ainda serão necessárias. Os testes nos trilhos devem começar no segundo semestre deste ano e durar pelo menos seis meses.
Outro passo inédito é a introdução de locomotivas híbridas. A partir de um acordo assinado com a Wabtec em 2023, três locomotivas movidas a bateria serão acopladas aos trens que hoje operam com motores a diesel. Essas baterias serão recarregadas durante o processo de frenagem da composição — uma inovação que, segundo estimativas da Vale, pode economizar até 25 milhões de litros de diesel por ano e reduzir a emissão de carbono em 63 mil toneladas.
“Por isso que a gente acredita também que essa transição com o híbrido vai ser importante. Eu vou ter condição de usar a bateria em determinado ponto e utilizar combustível em outro. E o que a gente quer é ter um combustível melhor”, afirmou Silva Junior.
A empresa já opera uma locomotiva elétrica desde 2022, mas ela é usada apenas em manobras por sua baixa potência (2.000 HPs). Para substituir as atuais locomotivas a diesel dos trens de carga, seriam necessárias 14 elétricas, o que tornaria a manutenção inviável, segundo o executivo.
Fundada em 1985 exclusivamente para transporte de minério, a EFC passou a levar passageiros em 1986. A viagem entre São Luís e Parauapebas dura cerca de 16 horas e conta com 15 pontos de parada, sendo as principais estações São Luís, Santa Inês, Açailândia, Marabá e Parauapebas.
Por Otávio Rosso (Brasil247)