Familiares, amigos e fãs se despedem de Nana Caymmi no Rio de Janeiro
Os versos de Caymmi viraram canção de ninar crianças por todo o Brasil
Por Arimateia Jr
Publicado em 02/05/2025 20:17 • Atualizado 02/05/2025 20:20
Música
O Brasil pede uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu

O corpo de Nana Caymmi foi enterrado na tarde desta sexta-feira (2) no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio

Ao som de "Acalanto", canção de ninar composta por Dorival Caymmi especialmente para a filha quando ainda era criança, eles homenagearam a artista.

 

Uma das maiores cantoras do Brasil, Nana morreu na quinta-feira (1º), aos 84 anos, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, onde deu entrada em julho de 2024 para tratar uma arritmia cardíaca. Segundo o hospital, a morte se deu em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.

 

A jornalista Stella Caymmi, uma das filhas de Nana, afirmou que o Brasil perdeu uma das 20 melhores cantoras do século XX e uma das cinco do século XXI.

 

"Eu perco a minha mãe, mas hoje o Brasil perde um pouco de bom da música brasileira. Ela era uma mulher corajosa. Nos criou com dignidade, valores, formou o nosso gosto para música. Ela era engraçada, espirituosa, surpreendente no modo de falar, era verdadeira, sem medo do politicamente correto", destacou.

 

O músico Danilo Caymmi também destacou a importância da irmã para a música brasileira.

 

"Eu sinto como irmão, mas também como fã, como inúmeros fãs que a acompanhavam. A gente perdeu a grande intérprete Nana Caymmi", destacou Danilo.

 

Gilberto Gil, que foi casado com Nana entre 1967 e 1969, foi ao velório acompanhado da esposa, Flora Gil. Emocionado, recebeu o carinho de amigos ao chegar no local.

 

"Um país historicamente feito de grandeza musical, ela representava tudo isso. Além do mais, foi uma querida em um momento muito importante da minha vida. Vivemos juntos, criamos os meninos dela. Uma querida. Muitas saudades (...) Inigualável, inigualável", disse Gil.

 

Nascida Dinahir Tostes Caymmi em 29 de abril de 1941 – fez aniversário dois dias antes de morrer –, a carioca cresceu em uma família de músicos: era filha de Dorival Caymmi com Stella Maris, e irmã de Danilo Caymmi e Dori Caymmi.

 

"O Brasil pede uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Estamos todos realmente muito tristes, mas ela passou nove meses de sofrimento intenso dentro de hospital", disse Danilo Caymmi, que narrou o sofrimento da irmã.

 

A carreira

Nana Caymmi estava internada desde agosto do ano passado em uma clínica para tratar de uma arritmia cardíaca

Nana ( foto acima) é dona de discografia pautada por extrema coerência na seleção de repertório, arranjadores e produtores musicais.

 

Criada em um ambiente musical, estreou na música ao lado do pai ainda adolescente, e, 1960, em um dueto na canção “Acalanto”, composta por Dorival quando ela ainda era bebê. Os versos viraram canção de ninar crianças por todo o Brasil: “Boi, boi, boi / Boi da cara preta / Pega essa menina que tem medo de careta”.

 

No ano seguinte, após gravar o primeiro compacto solo, ela largou tudo para ir morar na Venezuela, após se casar com um médico venezuelano aos 18 anos.

 

A adaptação, porém, não foi fácil, e ela retornou ao Brasil com as filhas Estela e Denise — e grávida de João Gilberto, seu terceiro filho.

 

Entre as canções que gravou, com sua voz inconfundível, estão clássicos de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Milton Nascimento e Roberto Carlos – sempre imprimindo sua personalidade única.

 

Em 1964, Nana participou da gravação do disco “Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo”, um clássico que fez sucesso não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos.

 

Pouco depois, encarou um dos maiores desafios de sua carreira: o Festival Internacional da Canção, em 1966. Interpretando “Saveiros”, de seu irmão Dori Caymmi, foi vaiada, mas venceu a competição.

 

Eu tava mais preocupada em não desmaiar do que com as vaias”, relembra.

 

A artista gravou outras dezenas de discos na carreira. Entre eles, “Nana Caymmi” (1975), que a consolidou no cenário da MPB; “Renascer” (1976); “Voz e Suor” (1983), ao lado do pianista Cesar Camargo Mariano; “Bolero” (1993); e “A noite do meu bem - As canções de Dolores Duran” (1994), produzido por José Milton, com quem ela trabalhou até 2019.

 

Seu repertório também inclui releituras marcantes de músicas do pai, como “O Que É Que a Baiana Tem” e “Saudade da Bahia”.

 

Em 2004, ela e os irmãos Dori e Danilo foram homenageados com o título de cidadãos baianos.

 

Novelas

A voz de Nana também marcou presença em trilhas sonoras de novelas e minisséries de TV, além de participações especiais.

 

Se comparada a outras cantoras da MPB — como Maria Bethânia, Elis Regina e Gal Costa —, ela nunca teve uma popularidade massiva. Mesmo assim, ainda no início da carreira, se consagrou como uma das mais relevantes do país.

 

Embora nunca tenha sido cantora de arroubos teatrais, Nana encara o peso e a dramaticidade das músicas em que põe a voz lapidada com o tempo que fez emergir, a partir dos anos 1970, o brilho do verdadeiro diamante embutido nas cordas vocais da intérprete”, escreveu o crítico musical Mauro Ferreira em 2021.

 

Os últimos álbuns lançados pela cantora são “Nana, Tom, Vinicius” (2020) e “Nana Caymmi Canta Tito Madi” (2019). Além de Gilberto Gil, Nana também namorou os cantores João Donato e Cláudio Nucci.

 

A cantora deixa três filhos e duas netas.

 

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