Fornecido por Estadão
O Operador Nacional do Sistema (ONS) ligou o sinal de alerta para este ano. Depois do pior janeiro de chuvas da série histórica e recordes de demanda de energia, o diretor-geral do órgão, Luiz Carlos Ciocchi, estima que os reservatórios das hidrelétricas devem chegar pela metade ao período seco.
O cenário é bem diferente do que ocorreu em 2023, quando a armazenagem de água nos reservatórios em abril estava em quase 90% do total.
Desde o final de 2023, algumas térmicas já estão sendo acionadas para atender os horários de maior consumo, disse Ciocchi ao Estadão/Broadcast. Se as projeções se confirmarem, o País poderá ter em 2024 um custo maior com energia elétrica devido ao maior uso das usinas térmicas.
“No ano passado partimos de um ponto bem melhor, de uma situação bem mais confortável, mas a estação chuvosa (de outubro a abril) está sendo muito ruim. Janeiro foi o pior janeiro em termos de energia natural afluente de toda a série histórica. Em 2021 se falou que era a pior situação em 91 anos, e esse janeiro foi pior”, informou Ciocchi.
As previsões para fevereiro e março também são ruins. Apesar das hidrelétricas ainda registrarem bons níveis de armazenagem de água, em torno dos 60%, “o que é bastante razoável”, segundo o executivo, o consumo vem aumentando.
Em novembro, ultrapassou pela primeira vez os 100 mil megawatts, subindo para 101 mil MW em fevereiro. Segundo Ciocchi, estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que o crescimento é contínuo, e que o consumo de energia está aumentando mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) do País.
“Ainda temos fevereiro e março para a estação chuvosa e nada indica que vai ser muito bom. O que acontece é o seguinte: já temos que ir alertando como fizemos no CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) para que a situação não se complique de uma hora para outra. Nos horários de maior consumo, que são os horários de ponta, estamos chamando as térmicas, sim.
Apesar de ter um armazenamento de energia bom, as térmicas têm que ser acionadas para dar atendimento à carga nos horários de ponta”, explicou.
No momento, a geração das térmicas tem ficado em torno dos 5 mil e 6 mil MW, uma carga ainda tímida, e que não é suficiente para modificar as bandeiras que balizam o valor das contas de energia elétrica do brasileiro.
Em 2023, a bandeira administrada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ficou verde o ano todo, já que a geração das usinas hidrelétricas tem menor custo do que as térmicas. “A termelétrica não é a vilã, ela justamente aparece para salvar a ponta”, defendeu Ciocchi.
Com apenas um leilão de reserva de capacidade previsto para o segundo semestre deste ano, depois de não ter realizado nenhum no ano passado, a expansão do setor elétrico brasileiro tem sido bastante intensa no que Ciocchi classifica como as “novas renováveis”, ou seja, as fontes eólica e solar.
No ano passado, junto das hidrelétricas, as duas fontes chegaram a 92,4% de toda a carga de energia elétrica ofertada ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O problema, ressaltou, é a velocidade das conexões dessa geração intermitente das “novas renováveis” nas linhas de transmissão.
“Principalmente para micro e mini geração solar distribuída, tem havido muita demanda por conexão, que nem sempre pode ser atendida, pois o planejamento da nossa infraestrutura é sempre baseado no atendimento à demanda, e, para a demanda, o dimensionamento (do SIN) está adequado. Mas a oferta tem crescido mais do que a demanda e causa essa discussão toda, muita gente querendo ser conectado”, disse o executivo.
O mesmo raciocínio vale para que as dezenas de projetos de eólicas offshore que aguardam licença do Ibama comecem a sair do papel. Segundo Ciocchi, se esses projetos tiverem como destinação a produção de hidrogênio, como vem sendo falado, a energia não chegará no SIN e não vai afetar a operação.
“Mas, se uma parte disso, para viabilizar o projeto, tem que entrar no sistema elétrico, aí você tem que pensar em outra coisa, porque essa energia hoje não está sendo demandada”, afirmou.