Sarney e Dona Marly cumprimentados pelo governador do DF, Ibaneis Rocha
Ex-presidente comemorou 93 anos com recepção no Lago Sul, em Brasília
BRASÍLIA - O ex-presidente José Sarney (MDB) abriu as portas da sua residência no Lago Sul, em Brasília, e recebeu amigos e autoridades na noite de segunda-feira (24), para comemorar o aniversário de 93 anos. A festa foi organizada pela ex-governadora e deputada federal Roseana Sarney (MDB).
Na lista de convidados, nomes dos mais diversos espectros políticos, como o vicepresidente Geraldo Alckmin (PSB), o ex-presidente Michel Temer (MDB); os ministros do STF Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski; o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino; o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDV); a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann; os ex-governadores do DF José Roberto Arruda e Paulo Octávio; o procurador-geral da República, Augusto Aras; e o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.
O presidente Lula (PT), que cumpre missão oficial em Portugal, não compareceu, mas parabenizou o ex-presidente por telefone – assim como Marcelo Rebello, presidente português, segundo reportagem do Correio Braziliense.
Política foi o assunto - Apesar da descontração do momento, a política foi o principal assunto da noite. Desde a crise por conta dos ataques às sedes dos Três Poderes - com a possibilidade de abertura de um Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) -, até a possibilidade de indicação do advogado Cristiano Zanin para a vaga aberta com a aposentadoria de Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF), de acordo com apuração do Estadão.
Um dos primeiros a chegar, o ministro Alexandre Moraes, do Supremo, foi uma das estrelas da noite, mas evitou conversas longas. “Temos muito trabalho pela frente”, disse o ministro que conduz o processo sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro.
Sobre a possível CPMI do 8 de janeiro, Alckmin avaliou que a instalação de uma comissão é “indiferente” à programação de votações do governo. “Nenhum problema”, disse. Sobre a agenda prioritária, defendeu a proposta de reforma tributária e o arcabouço fiscal. “São os dois projetos importantes para a retomada econômica.”
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), foi ao evento acompanhado do ministro-chefe interino do Gabinete de Segurança Institucional, Ricardo Cappelli (PSB). E revelou que a passagem dele será mesmo temporária pelo posto. “Ele ficará apenas uma, ou duas semanas. Vai entrar um general mesmo no posto”, afirmou, ainda segundo o Estadão.
A resistência ao nome do advogado Cristiano Zanin na vaga aberta por Lewandowski era um assunto na pauta da noite. “A indicação não é 100%, mas ele é um importante nome”, disse um ministro do governo. O senador Paulo Rocha, do PT do Pará, comentou que Lula se divide entre a gratidão pelo que Zanin fez na Lava Jato e a política. “O presidente vai saber trabalhar essa questão”, disse. A aposta é que o advogado ficará com a vaga por um fator: não há no momento outro que Lula confie mais.
Democrata - Entre os convidados, uma unanimidade a respeito de Sarney: o expresidente foi sempre um democrata. “Como disse Jorge Amado, no período do presidente Sarney a democracia foi plena”, comentou Alckmin. “Mais de trinta anos depois, a democracia esteve em risco, como foi dia 8 de janeiro”, observou. “A resposta veio dos três poderes e dos três níveis de governo, todos foram firmes".
“Sarney é uma referência de moderação”, disse Temer. “Sou repetitivo: o país precisa de reconciliação”. Uma pessoa perguntou se havia chance de uma reaproximação com o atual presidente. Ao pé do ouvido dela, Temer disse: “Ele (Lula) só me chama de golpista”, disse num tom de brincadeira e de queixa.
Um dos últimos a chegar à festa, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), comentou a postura do ex-presidente em momentos delicados da República, quando esteve à frente do Executivo e do Senado. “Ele representou e representa muito a sabedoria da política e das conquistas que o Brasil teve”, afirmou Lira. “Todo mundo veio prazerosamente dar um abraço nele.”
À reportagem do Estadão, o deputado disse que depois de uma eleição e o início de governo e legislativo “tumultuados” as “coisas” vão entrando nos eixos. “Algumas pedras vão se acomodando. Outras teimam, e precisam ser polidas”, disse. Polidas ou punidas? “Po-li-das”, respondeu Lira. “Você faz um polimento das pedras. Há instrumentos legislativos e jurídicos para isso”, ressaltou. “Quem se desvirtua tem ao seu encontro um encaminhando, como o Conselho de Ética que vai se debruçar sobre os exageros. Maior que os problema internos são os problemas externos.”
Lira defendeu uma “pacificada” no País. “Alguns temas precisam ser menos tumultuados. A gente precisa tratar mais abertamente de situações com parcimônia para que se chegue tranquilamente a votações de matérias importantes”, afirmou. “É o que todo mundo quer: um ambiente econômico mais previsível, menos complexo, simplificado.”
Ele avaliou que a instalação de uma CPI para investigar o 8 de janeiro não vai atrapalhar a agenda. “Todos precisam ajudar a estabilizar o movimento político”, disse, ressaltando que não mandava recado apenas para o governo. “Não é só o Planalto. A polarização não está lá dentro, está em todo o ambiente.”