Condições climáticas, custos logísticos e menor produção de algumas culturas influenciam nos valores dos produtos
A ocorrência de chuvas mais intensas no último mês de novembro anunciaram a aproximação do período popularmente conhecido como inverno amazônico, que coincide com a época de verão em regiões onde o clima é mais definido. Por um lado, as precipitações mais frequentes significam um alívio nas altas temperaturas, porém também alteram a colheita de frutos bastante consumidos no dia a dia, como a laranja e a tangerina.
De acordo com o mestre em agronomia e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, José Urano de Carvalho, as frutas cítricas são produzidas ao longo de todo o ano, mas entre os meses de janeiro a junho as colheitas são menores com as chamadas safras temporãs. “A maior produção de laranja e tangerina ocorre no segundo semestre. Esse ano, a safra de tangerina não foi muito boa e, apesar do Pará ter uma boa produção de citrus, ainda importamos muita laranja de estados como São Paulo”, comenta o pesquisador.
Com diminuição da oferta aliada aos custos de transporte, a tendência natural do mercado é que essas frutas sofram com elevação de preços nos próximos meses. O mesmo efeito deve ser observado com o maracujá devido a influência do abastecimento do estado depender do Nordeste, apesar do fruto ser típico da Amazônia.
“O maracujá se produz em todos os meses, mas o pico de produção é entre agosto e outubro. Hoje, o preço da polpa custa, em média, de R$ 10 a R$ 12, sendo que era uma das mais baratas no início dos anos 2000 rivalizando com o caju. Nessa época, o Pará chegou a ser responsável por 40% da produção nacional, hoje respondemos por apenas 2%”, afirma Urano, que elenca alguns fatores que contribuíram para esse fenômeno.
“Alguns agrônomos atribuem isso a proliferação de doenças, mas nessas outras regiões também ocorreu e mesmo assim teve aumento da produtividade. Eu atribuo isso a expansão dos plantios de açaizeiro e cacaueiro, que foram eliminando outras culturas. Isso é uma questão de política estadual”, avalia o pesquisador.
Da mesma forma, a manga do tipo bacuri cultivada localmente tem perdido espaço para a variedade palmer, oriunda da região vizinha. “Se você entrar nos mercados e feiras livres, a variedade palmer é mais encontrada e é bastante aceita no mercado estrangeiro. Por aqui, ela é comercializada em torno de R$ 5,89, enquanto a manga bacuri é vendida por cerca de R$ 6,99, sendo que a palmer é importada de Pernambuco com todos os custos de irrigação, embalagem, transporte e mesmo assim chega aqui com preços mais competitivos”.
Nesse cenário, Urano de Carvalho acredita, inclusive, que tende a aumentar a participação de outros estados no abastecimento interno. “Eu asseguro que as indústrias de polpas vão importar mais goiaba, taperebá, caju e acerola porque não vai ter produção suficiente aqui no estado por conta dessa expansão do açaí em detrimento de outras culturas. Até mesmo a banana, que ainda tem grande importância, vem caindo a área de plantio. Nós tínhamos cerca de 50 mil hectares de plantio de banana e agora caiu para cerca de 40 mil hectares”.
A oferta de frutas é sempre grande, no entanto, mesmo por lá, os feirantes tem notado o encarecimento e até o “desaparecimento” de alguns alimentos comuns na dieta dos paraenses. “A manga vai dar uma quebrada agora. Vai cair mais o preço daqui pra janeiro e fevereiro, mas vai ser essa manga comum que a gente encontra por aqui pelas praças. A manga bacuri vai praticamente sumir de circulação nesse período”, confirma Pedro Paulo Ferreira, 56, que há 30 anos trabalha como feirante.
Outro produto bastante comum é a banana, que a despeito da expressão popular “a preço de banana”, tem tido reajustes expressivos ao longo do ano. “A banana pegou preço mais alto. Nós chegávamos a comprar de R$ 25 a 30, agora nós estamos pagando R$ 50 por uma caixa de banana com oito dúzias de banana. Quer dizer que a gente tem que repassar para o freguês. Procuramos vender um pouco mais caro pra ter um pouquinho de lucro e tentamos compensar em outras mercadorias”, conta Wilson Rodrigues, 71, que tem mais de 40 anos de serviço na feira.
Período chuvoso favorece frutas regionais
No entanto, o inverno amazônico não é sinônimo apenas de inflação, já que nos próximos meses inicia a safra de frutas típicas, como cupuaçu, bacuri, castanha e pupunha, que aos poucos já começam a ganhar espaço nas barracas dos feirantes da capital. Além desses, outras exóticas, como o rambutã e mangostão, que são típicas da Ásia, também tem lugar de destaque.
Nesta semana, os cachos de pupunha nas diferentes cores e tamanhos na barraca de Pedro Paulo Ferreira já chamava atenção de muitos clientes que passavam pelo Ver-o-Peso. “A gente ainda não tá na safra. Vai começar mesmo a partir de janeiro com pupunha boa e o preço também vai estar bom. A tendência é que o preço vai ser o mesmo do ano passado, que é R$ 10 reais o quilo. Agora nós estamos comprando no quilo. Daqui a uns meses a gente vai começar a comprar sem pesar. As melhores que a gente de R$ 5 a 7, conforme a gente compra do fornecedor”, adianta o feirante.
O feirante Pedro Paulo Ferreira já oferta grandes quantidades de pupunha antes mesmo do início da safra do fruto
A castanha-do-pará é outro produto beneficiado por essa época do ano com preços baixando mais de 50%. “No momento ainda temos castanha desse ano e o preço está razoável, saindo a R$ 70 o quilo. Mas daqui pra janeiro ela vai baixar porque começa a safra. Se hoje, o litro dela está entre R$ 10 e R$ 15, quando chega na safra baixa pra R$ 7. Aí fica melhor para nós e para o cliente comprar mais ainda”, diz Rosimar Ferreira, 50, que há 12 anos trabalha vendendo a amêndoa, méis e coco.
“A safra desse ano de 2022-2023 deve ser melhor que 2021-2022, principalmente para as frutas nativas e algumas produzidas em outros continentes. A maioria delas precisa de um período seco de sete a 15 dias para produzir bem. Esse ano, tivemos condições mais favoráveis, apesar de fatores como a guerra na Ucrânia, que elevou os preços dos adubos”, esclarece o pesquisador Urano de Carvalho.
Frutas típicas, como a castanha-do-Pará, tem produção elevada no período chuvoso
Conheça o período de safra de algumas fruteiras na Amazônia
- Abiu – De junho a julho
- Abricó – De agosto a outubro
- Açai – De agosto a dezembro
- Araça-boi – De janeiro a dezembro
- Bacuri – De janeiro a abril
- Bacupari – De janeiro a março
- Camu-camu – De novembro a maio
- Carambola – De janeiro a dezembro
- Castanha-do-Pará – De janeiro a abril
- Cupuaçu – De dezembro a abril
- Muruci – De setembro a janeiro
- Pitanga – De janeiro a dezembro
- Sapotilha – De janeiro a dezembro
- Taperebá – De outubro a dezembro
- Uxi – De janeiro a fevereiro
- Fonte: Embrapa Amazônia Oriental