Tapajós: Imprensa local é contrária à divisão do Pará
Politica
Publicado em 08/02/2022

No que depender da movimentação política, o mapa brasileiro pode ser alterado no decorrer dos próximos meses. Em tramitação no Congresso Nacional, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 508/2019 prevê a realização de plebiscito para se avançar — ou não — com a ideia de se dividir estado do Pará, com a sua atual porção oeste sendo “emancipada” e formando, assim, uma nova unidade federativa: o Tapajós. Enquanto a proposta aguarda por votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a imprensa local já tem um veredicto: é contrária à divisão do território paraense.

A opinião dos jornalistas do Pará — incluindo aqueles atuantes nos 23 municípios que, segundo o PDL, poderão vir a compor o estado do Tapajós — foi mapeada por ação promovida pelo Portal Comunique-se no decorrer desta semana. Por meio do Comunique-se 360, plataforma de mailing imprensa e marketing digital, segmentações foram criadas a fim de “conversar” direta e exclusivamente com os comunicadores locais. Para eles, um questionário foi enviado. A maioria absoluta dos participantes da ação posicionou-se contra a ideia de o governo brasileiro criar um novo estado.

Dos nove jornalistas que responderam ao questionário enviado pela equipe do Portal Comunique-se, sete assinalaram “não” para a pergunta “você é favorável à criação do estado do Tapajós, desmembrando 23 municípios que hoje pertencem ao Pará?”. Ou seja: entre os participantes, 77,8% defendem que o Pará — e consequentemente o Brasil como um todo — siga sem alterar seu mapa geopolítico. Apenas dois dos profissionais de imprensa do estado (equivalente a 22,2% de respondentes) surgiram como promotores do projeto relacionado ao Tapajós.

Independentemente da avaliação por parte dos formadores de opinião, para avançar — ou ser rejeitada de vez — a criação do estado do Tapajós (nome ao rio que corta boa parte do oeste paraense) depende de movimentação política, sobretudo na CCJ, onde a proposta estava inicialmente prevista para ser analisada em novembro de 2021, conforme admite a equipe da Agência Senado. Nesse sentido, a maioria dos jornalistas que responderam ao questionário enviado pelo Comunique-se 360 mostra-se cética em relação ao andamento do projeto. Seis dos entrevistados acreditam que 2022 chegará ao fim sem um desfecho sobre o tema. Por outro lado, dois apostam que o caso será definido no decorrer deste ano, enquanto uma pessoa preferiu não responder.

Constituição Federal prevê em seu artigo 18, parágrafo 3º, que um estado do Brasil pode ser subdividido ou desmembrado a partir de aprovação da “população diretamente interessada”. Nesse ponto, boa parte dos jornalistas locais garante que a população interessada seria aquela distribuída em todo o atual estado do Pará. Assim, sete dos nove respondentes afirmam que o plebiscito deveria ser realizado em todos os municípios paraenses, não somente entre os moradores das 23 cidades previstas para comporem o Tapajós (tese defendida por um dos entrevistados). Há um comunicador local que defende que a consulta seja realizada em todo o país.

Por que jornalistas do Pará rejeitam a criação do Tapajós?

Para os jornalistas contatados pelo Portal Comunique-se, dar ao oeste do Pará o status de estado independente da administração de Belém não resolverá os problemas da região. Entre os respondentes do questionário, há quem afirme que a criação de mais uma unidade federativa só serviria para estimular a corrupção. “Os problemas atuais são de natureza complexa e tendem a se agravar em municípios já castigados economicamente. A proposta de criação do estado do Tapajós é conhecida pela inspiração eleitoreira, a partir dos políticos que a defendem”, pontuou um dos comunicadores.

Há, no entanto, aqueles jornalistas locais que veem na possibilidade de criação do estado do Tapajós potencial para o desenvolvimento econômico da região. “Mais representatividade e recursos públicos”, afirma um dos profissionais da imprensa do Pará. “O estado do Tapajós é um sonho centenário da população da região oeste do Pará. Como o Pará é um estado de dimensões enormes, ter a sede estadual na região ajudará a que as ações políticas governamentais cheguem mais rápido à população”, avalia outro membro do time de comunicadores entrevistados pelo Portal Comunique-se.

Em geral, os jornalistas paraenses não demonstram confiança em termos de que se, uma vez criado, o estado do Tapajós ajudaria a gerar mais empregos para a própria imprensa. Sete dos nove entrevistados afirmam que novos campos de trabalho na comunicação não iriam surgir. Teve gente, aliás, que aproveitou a ação para reclamar do mercado atual. “As grandes organizações [de mídia] tendem a manter o poder aqui no novo estado também. E a realidade delas de multisserviços para cada profissional, e salário baixo”, registrou. “Já existem alguns meios consolidados na região”, observou outro comunicador local.

Um jornalista, entretanto, acredita que a possível elevação de Santarém, cidade do oeste do Pará com 300 mil habitantes, à capital do Tapajós ajudará na abertura de novos trabalhos para comunicadores, mas não necessariamente apenas em redações. “Concentrará diversos órgãos da administração pública estadual, que precisará viabilizar a comunicação interna, além de que sendo capital, outras faculdades de jornalismo surgirão, e consequentemente, mais veículos de comunicação”. Outro entrevistado prevê que haverá aumento no interesse midiático pela região — que ao todo conta com cerca de 2 milhões de habitantes.

Oeste do Pará/Tapajós convive com “deserto de notícias”

Mencionada por um dos entrevistados, Santarém é a maior cidade em população do oeste paraense. E também se destaca na relação como “sede” de empresas de mídia na região. De acordo com o serviço de mailing imprensa do Comunique-se 360, o município serve de base para 12 veículos de comunicação. Na lista há jornais, projetos nativos digitais, estações de rádio e emissoras de televisão, como a TV Tapajós, afiliada local da Rede Globo. A pluralidade de redações, no entanto, não se repete na região como um todo. Pelo contrário. A maior parte do oeste do Pará convive com o que o projeto Atlas.jor define como “Deserto de Notícias”.

Além de Santarém, apenas outros quatro municípios do chamado oeste do Pará têm veículos de comunicação registrados para receber releases e sugestões de pautas, conforme mapeamento da equipe de monitoramento de mídias do Comunique-se 360. Alenquer, Faro, Itaituba e Óbidos contam com pelo menos um projeto midiático ativo. Os outros 18 municípios mencionados no projeto em tramitação no Senado sobre o Tapajós não contam com veículos catalogados pela plataforma: Almeirim, Aveiro, Belterra, Brasil Novo, Curuá, Jacareacanga, Juruti, Medicilândia, Mojuí dos Campos, Monte Alegre, Novo Progresso, Oriximiná, Placas, Prainha, Rurópolis, Terra Santa, Trairão e Uruará.

A imprensa no estado “caçula” do Brasil

Enquanto segue o imbróglio relacionado à criação ou não de mais uma unidade federativa, o Tocantins, que desmembrou-se de Goiás em 1989, segue com o título de estado mais jovem do Brasil. Desde sua criação, o Tocantins tem sido palco para a movimentação midiática. Mesmo com população estimada em 1,6 milhão de habitantes, menos do que a soma dos 23 municípios que podem formar o Tapajós, o estado tem 53 veículos de comunicação ativos e mapeados pela equipe do Comunique-se 360 — volume bem maior do que o registrado no oeste paraense.

Somente a capital Palmas conta com mais de 30 veículos de comunicação em operação. E com espaço para pelo menos uma curiosidade. Famoso técnico de futebol, Vanderlei Luxemburgo pode se apresentar como empresário de comunicação. Isso porque ele é dono da TV Jovem, afiliada da Record no Tocantins. O treinador tornou-se presidente do canal televisivo em 2019. Desde então, ele tem se tornado personagem de pautas da emissora. Há sete meses virou notícia a visita feita à sede em Palmas da Igreja Universal do Reino de Deus, denominação liderada por Edir Macedo, proprietário do Grupo Record.

Enquanto Luxemburgo controla uma emissora de TV no Tocantins, que até o fim da década de 1980 era a porção norte de Goiás, o oeste do Pará/Tapajós se vê inserido num “deserto de notícias” — e com a possibilidade de se tornar um estado sendo rejeitada pela própria imprensa local.

Esta pauta foi produzida a partir de ações realizadas pelo Comunique-se 360, solução de mailing imprensa e marketing digital gerida pelo Grupo Comunique-se.

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