No que depender da movimentação política, o mapa brasileiro pode ser alterado no decorrer dos próximos meses. Em tramitação no Congresso Nacional, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 508/2019 prevê a realização de plebiscito para se avançar — ou não — com a ideia de se dividir estado do Pará, com a sua atual porção oeste sendo “emancipada” e formando, assim, uma nova unidade federativa: o Tapajós. Enquanto a proposta aguarda por votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a imprensa local já tem um veredicto: é contrária à divisão do território paraense.
A opinião dos jornalistas do Pará — incluindo aqueles atuantes nos 23 municípios que, segundo o PDL, poderão vir a compor o estado do Tapajós — foi mapeada por ação promovida pelo Portal Comunique-se no decorrer desta semana. Por meio do Comunique-se 360, plataforma de mailing imprensa e marketing digital, segmentações foram criadas a fim de “conversar” direta e exclusivamente com os comunicadores locais. Para eles, um questionário foi enviado. A maioria absoluta dos participantes da ação posicionou-se contra a ideia de o governo brasileiro criar um novo estado.
Dos nove jornalistas que responderam ao questionário enviado pela equipe do Portal Comunique-se, sete assinalaram “não” para a pergunta “você é favorável à criação do estado do Tapajós, desmembrando 23 municípios que hoje pertencem ao Pará?”. Ou seja: entre os participantes, 77,8% defendem que o Pará — e consequentemente o Brasil como um todo — siga sem alterar seu mapa geopolítico. Apenas dois dos profissionais de imprensa do estado (equivalente a 22,2% de respondentes) surgiram como promotores do projeto relacionado ao Tapajós.
Independentemente da avaliação por parte dos formadores de opinião, para avançar — ou ser rejeitada de vez — a criação do estado do Tapajós (nome ao rio que corta boa parte do oeste paraense) depende de movimentação política, sobretudo na CCJ, onde a proposta estava inicialmente prevista para ser analisada em novembro de 2021, conforme admite a equipe da Agência Senado. Nesse sentido, a maioria dos jornalistas que responderam ao questionário enviado pelo Comunique-se 360 mostra-se cética em relação ao andamento do projeto. Seis dos entrevistados acreditam que 2022 chegará ao fim sem um desfecho sobre o tema. Por outro lado, dois apostam que o caso será definido no decorrer deste ano, enquanto uma pessoa preferiu não responder.
A Constituição Federal prevê em seu artigo 18, parágrafo 3º, que um estado do Brasil pode ser subdividido ou desmembrado a partir de aprovação da “população diretamente interessada”. Nesse ponto, boa parte dos jornalistas locais garante que a população interessada seria aquela distribuída em todo o atual estado do Pará. Assim, sete dos nove respondentes afirmam que o plebiscito deveria ser realizado em todos os municípios paraenses, não somente entre os moradores das 23 cidades previstas para comporem o Tapajós (tese defendida por um dos entrevistados). Há um comunicador local que defende que a consulta seja realizada em todo o país.
Por que jornalistas do Pará rejeitam a criação do Tapajós?
Para os jornalistas contatados pelo Portal Comunique-se, dar ao oeste do Pará o status de estado independente da administração de Belém não resolverá os problemas da região. Entre os respondentes do questionário, há quem afirme que a criação de mais uma unidade federativa só serviria para estimular a corrupção. “Os problemas atuais são de natureza complexa e tendem a se agravar em municípios já castigados economicamente. A proposta de criação do estado do Tapajós é conhecida pela inspiração eleitoreira, a partir dos políticos que a defendem”, pontuou um dos comunicadores.
Há, no entanto, aqueles jornalistas locais que veem na possibilidade de criação do estado do Tapajós potencial para o desenvolvimento econômico da região. “Mais representatividade e recursos públicos”, afirma um dos profissionais da imprensa do Pará. “O estado do Tapajós é um sonho centenário da população da região oeste do Pará. Como o Pará é um estado de dimensões enormes, ter a sede estadual na região ajudará a que as ações políticas governamentais cheguem mais rápido à população”, avalia outro membro do time de comunicadores entrevistados pelo Portal Comunique-se.
Em geral, os jornalistas paraenses não demonstram confiança em termos de que se, uma vez criado, o estado do Tapajós ajudaria a gerar mais empregos para a própria imprensa. Sete dos nove entrevistados afirmam que novos campos de trabalho na comunicação não iriam surgir. Teve gente, aliás, que aproveitou a ação para reclamar do mercado atual. “As grandes organizações [de mídia] tendem a manter o poder aqui no novo estado também. E a realidade delas de multisserviços para cada profissional, e salário baixo”, registrou. “Já existem alguns meios consolidados na região”, observou outro comunicador local.
Um jornalista, entretanto, acredita que a possível elevação de Santarém, cidade do oeste do Pará com 300 mil habitantes, à capital do Tapajós ajudará na abertura de novos trabalhos para comunicadores, mas não necessariamente apenas em redações. “Concentrará diversos órgãos da administração pública estadual, que precisará viabilizar a comunicação interna, além de que sendo capital, outras faculdades de jornalismo surgirão, e consequentemente, mais veículos de comunicação”. Outro entrevistado prevê que haverá aumento no interesse midiático pela região — que ao todo conta com cerca de 2 milhões de habitantes.
Oeste do Pará/Tapajós convive com “deserto de notícias”
Mencionada por um dos entrevistados, Santarém é a maior cidade em população do oeste paraense. E também se destaca na relação como “sede” de empresas de mídia na região. De acordo com o serviço de mailing imprensa do Comunique-se 360, o município serve de base para 12 veículos de comunicação. Na lista há jornais, projetos nativos digitais, estações de rádio e emissoras de televisão, como a TV Tapajós, afiliada local da Rede Globo. A pluralidade de redações, no entanto, não se repete na região como um todo. Pelo contrário. A maior parte do oeste do Pará convive com o que o projeto Atlas.jor define como “Deserto de Notícias”.
Além de Santarém, apenas outros quatro municípios do chamado oeste do Pará têm veículos de comunicação registrados para receber releases e sugestões de pautas, conforme mapeamento da equipe de monitoramento de mídias do Comunique-se 360. Alenquer, Faro, Itaituba e Óbidos contam com pelo menos um projeto midiático ativo. Os outros 18 municípios mencionados no projeto em tramitação no Senado sobre o Tapajós não contam com veículos catalogados pela plataforma: Almeirim, Aveiro, Belterra, Brasil Novo, Curuá, Jacareacanga, Juruti, Medicilândia, Mojuí dos Campos, Monte Alegre, Novo Progresso, Oriximiná, Placas, Prainha, Rurópolis, Terra Santa, Trairão e Uruará.
A imprensa no estado “caçula” do Brasil
Enquanto segue o imbróglio relacionado à criação ou não de mais uma unidade federativa, o Tocantins, que desmembrou-se de Goiás em 1989, segue com o título de estado mais jovem do Brasil. Desde sua criação, o Tocantins tem sido palco para a movimentação midiática. Mesmo com população estimada em 1,6 milhão de habitantes, menos do que a soma dos 23 municípios que podem formar o Tapajós, o estado tem 53 veículos de comunicação ativos e mapeados pela equipe do Comunique-se 360 — volume bem maior do que o registrado no oeste paraense.
Somente a capital Palmas conta com mais de 30 veículos de comunicação em operação. E com espaço para pelo menos uma curiosidade. Famoso técnico de futebol, Vanderlei Luxemburgo pode se apresentar como empresário de comunicação. Isso porque ele é dono da TV Jovem, afiliada da Record no Tocantins. O treinador tornou-se presidente do canal televisivo em 2019. Desde então, ele tem se tornado personagem de pautas da emissora. Há sete meses virou notícia a visita feita à sede em Palmas da Igreja Universal do Reino de Deus, denominação liderada por Edir Macedo, proprietário do Grupo Record.
Enquanto Luxemburgo controla uma emissora de TV no Tocantins, que até o fim da década de 1980 era a porção norte de Goiás, o oeste do Pará/Tapajós se vê inserido num “deserto de notícias” — e com a possibilidade de se tornar um estado sendo rejeitada pela própria imprensa local.
Esta pauta foi produzida a partir de ações realizadas pelo Comunique-se 360, solução de mailing imprensa e marketing digital gerida pelo Grupo Comunique-se.