Do furacão Ida nos EUA a enchentes na China e na Europa, desastres impulsionados por mudanças climáticas atingiram países ricos e pobres e custaram mais de US$ 170 bilhões e centenas de vidas neste ano, aponta relatório.
A reportagem é publicada por Deutsche Welle
Os dez desastres climáticos mais caros de 2021 causaram mais de 170 bilhões de dólares (R$ 964,8 bilhões) em prejuízos, 20 bilhões de dólares (R$ 113,5 bilhões) ou 13% a mais que em 2020, divulgou a organização de caridade britânica Christian Aid nesta segunda-feira (27/12).
A alta nos prejuízos em relação ao ano passado reflete os efeitos das mudanças climáticas causadas pelo homem, afirmou a entidade, que a cada ano calcula os custos de enchentes, incêndios e ondas de calor.
Segundo a Christian Aid, os dez desastres mais caros de 2021 também mataram ao menos 1.075 pessoas e deixaram 1,3 milhão de desabrigados.
"Os custos das mudanças climáticas foram graves neste ano" afirmou Kat Kramer, líder de políticas climáticas na Christian Aid e autora do relatório Counting the cost 2021: a year of climate breakdown (Contando o custo de 2021: um ano de colapso climático).
O desastre mais caro de 2021 foi o furacão Ida, que atingiu o leste dos Estados Unidos e causou cerca de 65 bilhões de dólares em prejuízos (R$ 369 bilhões) e 95 mortes. Após chegar a Louisiana no fim de agosto, o furacão avançou em direção ao norte e causou enchentes na cidade de Nova York e arredores.
Inundações históricas na Europa Ocidental e Central em julho vêm em segundo lugar na lista, tendo causado perdas de mais de 43 bilhões de dólares (R$ 244 bilhões) e mais de 240 mortes. Alemanha, França, Holanda, Bélgica e outros países foram atingidos por chuvas extremas que cientistas dizem terem se tornado mais prováveis e frequentes devido ao aquecimento global.
Uma onda de frio e uma tempestade de inverno no Texas que derrubou a vasta rede elétrica do estado americano custou 23 bilhões de dólares (R$ 130,5 bilhões).
Inundações na província chinesa de Henan em julho custaram cerca de 17,6 bilhões de dólares (R$ 100 bilhões) e 302 vidas. O volume de chuvas registrado na capital de Henan, Zhengzhou, ao longo de três dias foi quase o equivalente à média anual, inundando o sistema de metrô.
Outros desastres que custaram vários bilhões de dólares incluem inundações no Canadá, uma geada no final da primavera na França que danificou vinhedos, e um ciclone na Índia e Bangladesh em maio.
Injustiça climática
O relatório, feito com base em pedidos a seguradoras, reconheceu que sua avaliação abrange principalmente desastres em países ricos onde a infraestrutura é melhor assegurada e que o custo financeiro dos desastres nos países pobres é muitas vezes incalculável.
A entidade cita como exemplo o Sudão do Sul, onde enchentes ocorridas entre julho e novembro forçaram mais de 850 milhões de pessoas a deixarem suas casas, muitas das quais já estavam desabrigadas devido a conflitos e outros desastres.
"Alguns dos mais devastadores eventos climáticos extremos em 2021 atingiram as nações mais pobres, que pouco contribuíram para as mudanças climáticas", observou o comunicado de imprensa do relatório, destacando a injustiça dos impactos do aquecimento global.
Ações urgentes
Em meados de dezembro, a maior companhia de seguros e resseguros do mundo, a Swiss Re, estimou que todos os eventos climáticos extremos e catástrofes naturais em 2021 causaram cerca de 250 bilhões de dólares em prejuízos, 24% a mais que no ano passado. O relatório da Christian Aid aponta que o custo somente para a indústria de seguros foi o quarto mais alto desde 1970.
Os custos financeiros e humanos das mudanças climáticas devem continuar a aumentar, a não ser que governos intensifiquem esforços para reduzir emissões e contenham o aquecimento global, diz o relatório.
"Embora tenha sido bom ver algum progresso sendo alcançado na COP26, está claro que não estamos no rumo para assegurar um mundo seguro e próspero", afirmou Kramer.
Apelos crescentes de países em risco para que se estabeleça um novo fundo para ajudar a cobrir perdas e danos num mundo mais quente devem ser uma prioridade global em 2022, disse Nushrat Chowdhury, assessor de justiça climática da Christian Aid em Bangladesh.