A foto de Milton Nascimento, em post desta quinta-feira no Instagram Foto: Instagram @augustoknascimento/Reprodução
Um dos maiores nomes da história da música brasileira, o cantor e compositor Milton Nascimento, de 82 anos, foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy (DCL). A informação foi divulgada nesta quinta-feira, 2, em reportagem publicada pela revista Piauí e depois detalhada pelo filho do cantor em um post nas redes sociais.
Em um longo post no Instagram (leia mais abaixo), Augusto Nascimento, filho do músico, confirmou a doença do pai e pediu “respeito e compaixão de todos neste momento tão delicado”, afirmando que as suas declarações à Piauí seriam as únicas sobre o caso.
À revista, Augusto conta que os primeiros sinais de alerta surgiram após um período de intensa atividade pública para o artista neste ano. Depois de ser homenageado no desfile da escola de samba Portela, na Marquês de Sapucaí, e do lançamento do documentário Milton Bituca Nascimento, na programação do Globoplay, Augusto notou mudanças preocupantes no comportamento do pai. Milton apresentava pouco apetite, um olhar frequentemente fixo em um único ponto e um esquecimento fora do comum.
A principal estranheza, no entanto, foi a repetição constante de histórias. Conhecido por passar horas narrando diferentes passagens de sua vasta trajetória, o artista começou a voltar aos mesmos assuntos em questão de minutos.
De acordo com a reportagem da Piauí, Milton passou, em abril, por uma série de testes clínicos para avaliar suas funções cognitivas, como atenção, capacidade de cálculo, orientação espacial e linguagem.
O declínio cognitivo foi tão acentuado que o médico do cantor, o clínico geral Weverton Siqueira, expressou sua preocupação a Augusto, afirmando que, pela primeira vez em uma década, estava assustado com a piora do quadro de Milton. Uma bateria completa de exames foi, então, solicitada.
Apesar da apreensão, Augusto buscou proporcionar um momento especial para o pai e decidiu fazer uma viagem de motorhome pelos Estados Unidos.
“Rodamos aproximadamente 4 mil km, eu dirigia com ele sempre ao meu lado de copiloto e escolhendo as músicas - tal qual sempre fizemos em nossas boas viagens pelo mundo. De alguma forma, eu sabia que aquela viagem seria uma despedida desses momentos”, escreveu no post do Instagram.
O diagnóstico final veio semanas após o retorno da aventura norte-americana. Além de um diagnóstico de Parkinson recebido em 2022, Milton Nascimento teve confirmado o quadro de demência por corpos de Lewy (DCL), uma doença associada a depósitos anormais de uma proteína chamada alfa-sinucleína no cérebro. Esses depósitos, conhecidos como “corpos de Lewy”, afetam substâncias químicas cerebrais, podendo levar a problemas de pensamento, movimento, comportamento e humor.
A doença que afeta Milton é progressiva e irreversível, com tratamentos que ajudam a gerenciar os sintomas, que incluem alucinações visuais e auditivas, irritabilidade e perda da noção de profundidade. De acordo com a reportagem da Piauí, a maior dificuldade de Milton neste momento é conseguir se alimentar.
Leia a íntegra do comunicado divulgado por Augusto Nascimento, filho de Milton Nascimento
“No final do ano passado, comecei a notar alguns comportamentos diferentes do meu pai, mas nada que fosse alarmante. De lá para cá, fomos levando a vida normalmente, ainda que com uma preocupação sempre existente, mas com ele recebendo inúmeras homenagens, sendo ovacionado, vibrando, cantando, sendo tema de desfile no carnaval, e por aí vai. Com o tempo, as alterações foram se acentuando. O Parkinson, diagnosticado em 2022, avançando, e as pequenas atividades do dia a dia sofrendo impacto. Em maio, decidi fazer uma viagem de motorhome com ele.
Rodamos aproximadamente 4.000 km, eu dirigia com ele sempre ao meu lado de copiloto e escolhendo as músicas - tal qual sempre fizemos em nossas boas viagens pelo mundo. De alguma forma, eu sabia que aquela viagem seria uma despedida desses momentos.
Dentro das limitações dele, nos divertimos muito e, quando voltamos, ele só dizia que havia sido a melhor viagem da vida dele. Poucos dias depois da volta, gravamos juntos uma campanha de Dia dos Pais e, no dia seguinte, ele olhou para mim e disse: ontem foi foda, né?! Como o belo coruja que é, sempre exaltando todos os momentos e realizações que tínhamos conjuntamente.
Uma semana depois, eu estava em Teresina a trabalho, e tive que voltar correndo, pois ele não estava legal e precisou ir ao hospital. Era uma desidratação, já fruto da dificuldade que ele vem tendo de se hidratar e alimentar. Dali para frente, entramos em uma montanha russa, e absolutamente tudo mudou de forma extremamente rápida: veio, então, o duro diagnóstico de demência. Nossos diálogos, desde então, têm sido, em sua maioria, silenciosos ou um pouco confusos. Meu pai me chama e tenta falar comigo, mas nem sempre consegue se expressar.
As inúmeras ligações a cada vez que eu viajo para trabalhar, já não existem mais, nem mesmo a curiosidade por boas fofocas da vida, ou a espera ansiosa por cada vez que eu retorno para casa em que ele me aguardava com uma camiseta com a nossa foto, ou a curiosidade travessa de me perguntar se eu tinha batido em todo mundo nas voltas dos treinos de jiu-jítsu.
Tem sido uma batalha diária, uma dor intensa e um vazio enorme no peito, pois, de alguma forma, o meu melhor amigo está me deixando aos poucos. Em alguns momentos, enquanto assisto televisão com ele, em meio ao silêncio, ele puxa e segura a minha mão. Também tem sido comum que ele só aceite fazer algumas refeições, quando eu estou ali o incentivando... acho que essas têm sido as maneiras dele me dizer o que em alguns momentos ele não vem conseguindo expressar através das palavras
Venho tentando retribuir todo o bem, o amor, cuidado e carinho, dando o máximo de dignidade e conforto que ele pode e merece ter nesse momento. Desde o momento em que o universo nos colocou um no caminho do outro, somos inseparáveis e invencíveis, e seguiremos assim enquanto estivermos juntos nessa vida. Esse é, junto com a matéria feita respeitosamente pelo querido João Batista Jr., na Revista Piauí, o único pronunciamento que farei sobre esse tema. Peço respeito e compaixão de todos nesse momento tão delicado. Eu te amo e sempre amarei, paizinho".