O delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, morto a tiros no aeroporto de Guarulhos na sexta-feira (8), se recusou a entrar no programa de proteção a vítimas e testemunhas
DO UOL/FOLHAPRESS
A informação é do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do MPSP (Ministério Público de São Paulo).
Gritzbach disse ao MP que podia bancar a própria segurança. "O Ministério Público ofereceu a todo momento a inserção do Vinicius no programa de proteção de réu colaborador", esclareceu o promotor de Justiça, em entrevista à GloboNews, nesta segunda-feira (11). Vinícius havia fechado um acordo de delação premiada em março deste ano.
"Na presença dos seus advogados, ele negou ingressar nesse programa, embora soubesse que corria risco, ele dizia que poderia custear a sua própria segurança", disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya.
Como foi o crime - além de Vinícius, motorista de aplicativo morreuO delator afirmou que o programa não se enquadrava ao seu estilo de vida. "Ele também dizia que [o programa de proteção à testemunha] não se enquadrava no seu estilo de vida, no que se propunha para este programa de colaboração, que era de romper todos os laços da sua vida, inclusive de envolvimento com o crime", informou o promotor Lincoln Gakiya.
A defesa de Gritzbach confirmou que ele escolheu não participar do programa. O empresário queria escolta policial. "Ele se recusou por várias vezes ingressar no programa. O que ele queria era uma espécie de escolta policial, não há nenhuma previsão legal para isso", explicou Lincoln Gakiya.
Programa de proteção à testemunha exige mudança de vida. O MP ofereceu a Vinícius Gritzbach o apoio do Provita (Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas). Para ingressar, é preciso cumprir algumas regras. "Ele precisa ter o comprometimento de não ter ligação com a sua vida anterior. Terá novo nome, novo endereço, mudará de estado", afirmou Gakiya, em entrevista ao Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes.
Programa foi criado em 1999. A política de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas atende à demanda de toda a federação. Segundo o governo federal, atualmente, cerca de 500 pessoas, entre testemunhas e seus familiares, são protegidas pelo programa.
Gritzbach contratou uma escolta particular formada por policiais militares da ativa. Os quatro PMs foram afastados do serviço.
Gritzbach foi descrito pelo MPSP como "um arquivo vivo" contra o PCC. O promotor Lincoln Gakiya explicou que a delação do empresário foi aceita pela estreita relação que ele mantinha com a facção criminosa.
"Ele era uma pessoa que conviveu com líderes do PCC, ele sabia exatamente onde o crime organizado, sobretudo o PCC, estava lavando dinheiro. Ele era um arquivo vivo, disso não tenho dúvida", disse o promotor Lincoln Gakiya, em entrevista ao Fantástico (TV Globo).
Gakiya ressaltou que Gritzbach enriqueceu por lavar dinheiro para o PCC, ação na qual ele era réu confesso. "Ele ajudou a lavar dinheiro para criminosos do PCC, na área de construção civil, onde ele era corretor e enriqueceu, oferecendo nomes de laranjas para que esses imóveis fossem colocados em nome de terceiros"
Empresário faria uma segunda delação em que implicaria agentes da Polícia Civil de São Paulo. Os policiais supostamente tinham relação com o PCC, conforme a promotoria. Uma semana antes de ser morto, Gritzbach chegou a fazer uma denúncia na Corregedoria da PCSP em que acusou policiais de terem levado uma caixa com relógios de luxo de sua casa, quando foi preso, dos quais cinco relógios não foram devolvidos. O empresário relatou que ao menos um desses relógios foi visto no braço de um policial em fotos publicadas nas redes sociais pelo agente. As fotos foram deletadas após a denúncia na Corregedoria.
Promotoria esclareceu que o teor desse depoimento de Gritzbach "ainda está em apuração por parte da Corregedoria". "O Ministério Público vai acompanhar e auxiliar no que for possível as investigações para que esse caso seja solucionado o mais rápido possível", completou Gakiya.