O ano de 2024 não é de cenário claro de ser entendido para o setor de mineração e siderurgia
Fornecido por ADVFN Brazil
A ação da Vale opera em queda nesta quinta-feira, 25 de janeiro, data de aniversário de 5 anos do rompimento da barragem da empresa em Brumadinho (MG), que matou 272 pessoas. Os analistas repercutem o desempenho do papel nos últimos dias, que tem forte impacto no Ibovespa, já que o volume negociado representa 14% do principal Índice da B3.
Às 13h29 (horário de Brasília), o ativo VALE3 caía 1,01%, a R$ 69,19.
A Genial Investimentos destaca que a mineradora voltou a se valorizar no pregão de ontem (24) e fechou em alta de 1%, a R$ 69,90, após anúncios de estímulos pelo governo chinês.
As ações de mineração e siderúrgica surfaram na onda da noticia de que o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) vai cortar o compulsório dos bancos, medida que deve injetar 1 trilhão de yuans (US$ 139 bilhões) no mercado.
A ação da Vale manteve o movimento de alta visto desde o pregão anterior, chegando a subir quase 2%, mas reduziu o ímpeto de ganhos no fim do pregão após notícias de que o presidente Lula segue fazendo pressão para colocar Guido Mantega na presidência da mineradora.
No ano, as ações da mineradora caem aproximadamente 9,5%, mesmo com a recuperação do papel nos últimos dias. As sucessivas quedas chamaram a atenção do mercado, que passou a olhar com desconfiança para a ação.
Após agências internacionais noticiarem que o governo chinês pode estar preparando um pacote de estímulos para a economia, o papel passou por uma recuperação depois das quedas.
Para Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, em tese, esse estímulo, por ser direcionado a ativos do mercado de capitais de Hong Kong, não teria um impacto direto nas ações da Vale e no preço do minério, que, por ser uma commodity deveria seguir a lei da oferta e demanda.
“Mas há um impacto indireto de que o governo chinês possa tomar outras medidas de incentivo voltadas para a economia real. Se houver algum anúncio de injeção de capital voltado para a infraestrutura, por exemplo, ai o preço do minério poderia subir, com uma maior demanda e isso seria benéfico para as ações da Vale”, explica.
Petrokas ainda explica que, além da preocupação com o crescimento da economia chinesa, o que colabora para a queda de Vale é o movimento generalizado de realização de lucros nos ativos brasileiros, além da queda do minério de ferro.
“O ano de 2024 não é de cenário claro de ser entendido para o setor de mineração e siderurgia, haja visto que o crescimento da economia real enfrenta diversos fatores de risco, principalmente inflação e tensões geopolíticas que estão se espalhando mundo afora” ressalta.
Segundo Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, o mercado está tendo dificuldade em tentar acertar uma recuperação na economia chinesa. "Com conglomerados financeiros e imobiliários passando dificuldades para lidar com suas dívidas e um cenário lento de recuperação do setor imobiliário, é uma incógnita traçar um cenário mais preciso para o setor”, afirma.
Para Fernandes, a Vale é uma forte geradora de caixa, e negocia com desconto em relação a suas concorrentes internacionais, o que sempre atraiu fluxo comprador para o papel.
Com a China apresentando alguma melhora mais robusta, acredito que vai acabar melhorando o cenário para as commodities metálicas, que devem reagir positivamente com alguma melhora no país asiático e maior importador do mundo”.
Para os próximos meses de 2024, a performance da Vale vai depender muito das novidades a respeito da China, de acordo com Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital.
“Não tem muito como fugir disso. Vai depender do que a gente tiver no desenrolar do mercado imobiliário chinês, que por enquanto está devagar. Então, quando a gente olha o preço, a Vale está muito barata, ela tem o múltiplo barato. Mas a impressão que dá é que o mercado só vai ficar otimista se de fato a gente tiver algumas mudanças e estímulos mais fortes na China”, comenta Duarte.
Novo Presidente da Vale
O presidente está travando uma batalha com os acionistas da Vale para fazer de Guido Mantega o novo presidente da mineradora. O vencedor da batalha será conhecido no dia 31 de janeiro, com a reunião do Conselho de Administração da empresa, que vai decidir se mantém no comando da mineradora o atual CEO, Eduardo Bartolomeo.
Grandes fundos de investimentos e investidores estão reagindo à ação do presidente e não querem ceder às pressões do Palácio do Planalto.
Eles afirmam que, se Mantega assumir o comando da empresa, vão rever planos de novos investimentos no país, por considerar uma intervenção em empresa privada.
Os acionistas até aceitam uma saída alternativa. Aprovar a entrada de Mantega como conselheiro da empresa, mas não presidente. O nome do ex-ministro é questionado pelo seu passado na Fazenda e por total falta de experiência no setor.
Segundo conselheiros da empresa, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ligou para alguns dos acionistas pedindo que aprovem o nome de Mantega, principalmente aqueles com relação com o governo.
Investidores repercutem as recentes falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ficam de olho na questão sucessória da mineradora
Os papéis ordinários da Vale caem 1,46%, a R$ 68,88, às 15h45 (horário de Brasília) desta quinta-feira (25), a despeito da alta de 1,6% do minério de ferro em Dalian mais cedo. Os investidores repercutem as recentes falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ficam de olho na questão sucessória da mineradora.
Hoje, Lula, no X (antigo Twitter), lembrou a tragédia de Brumadinho, que aconteceu há cinco anos.
“Faz 5 anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada”, afirmou o presidente na rede social X (antigo Twitter). Ele complementou: “É necessário o amparo às famílias das vítimas, recuperação ambiental e, principalmente, fiscalização e prevenção em projetos de mineração, para não termos novas tragédias como Brumadinho e Mariana”.
Essas críticas vêm num contexto de sucessão na Vale. Nos últimos dias, o petista e aliados próximos vêm aumentando o tom contra a mineradora. Há a intenção, dentro do governo, de emplacar Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, como diretor executivo da Vale.
Questão Mantega pesa na Vale
O atual CEO da mineradora, Eduardo Bartolomeo, tem contrato em vigor até 31 de maio. Pelas regras do estatuto, o executivo deve ser comunicado com quatro meses de antecedência se terá seu mandato renovado ou se o conselho decidiu abrir o processo de contratação de um novo presidente — prazo que se encerra na quarta-feira (31). De acordo com o Globo, o conselho da empresa deve se reunir entre amanhã (26) e terça-feira (30) para discutir o futuro de Bartolomeo.
Já ontem, foi noticiado pelo mesmo jornal que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), telefonou para conselheiros da empresa para defender a escolha de Mantega, indicado por Lula para a presidência da companhia.
Analistas, contudo, vêm minimizando a possibilidade de Mantega na Vale. O Bradesco BBI, na véspera, lembrou que a única entidade governamental com participação na Vale é a Previ, com 8,7%. “Portanto, o governo precisará convencer outros acionistas para eleger Mantega como CEO”, disseram, mencionando que o mais provável é que Mantega ganhe uma cadeira no Conselho.
Nesta quinta, cabe ressaltar, a presidente nacional do PT e deputada federal pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, defendeu a indicação do ex-ministro ao Conselho. “Pouquíssimos brasileiros são tão qualificados quanto Guido Mantega para compor o conselho da Vale, uma empresa estratégica para o país e na qual o governo tem participação e responsabilidades”, afirmou. Ela ainda disse que a companhia é “estratégica para o país” e chamou sua privatização de “danosa”.
Enrico Cozzolino, da Levante, diz que a questão sinaliza uma possível ingerência política, apesar de ser pouco provável que os acionistas da Vale aceitem o nome de Mantega.
No entanto, para ele, o risco é que o governo use poderes como licenças ambientais e tributação para tripudiar a mineradora. “Há todo um jogo político a ser avaliado que, no primeiro momento, é ruim para a Vale”, cita. “Temos de aguardar”.
Informações Agência CMA