Marlene de Brito Melo teve o pai acometido de um AVC e precisou leva-lo ao Socorrão Municipal de Imperatriz com urgência. Ao dar entrada, deparou-se com uma realidade vivida por inúmeras pessoas na cidade; falta de atendimento adequado, falta de medicamentos e até mesmo informações em tempo hábil para salvar o ente querido.
Em seu relato, emocionada, ela conta que o pai chegou a ficar cinco horas esperando atendimento em uma cadeira sem as mínimas condições de conforto e higiene. Ele não resistiu e veio a óbito.
Relatos como a de Marlene poderiam até ser explicados, não justificados, pelo auto número de pacientes que a todo momento dão entrada no hospital e precisam de atendimento urgente.
Ocorre que as denúncias de espera e de falta de estrutura mínima se tornaram corriqueiras em se tratando do Socorrão Municipal de Imperatriz. “O Socorrão de Imperatriz se tornou um matadouro de gente”, afirma a denunciante.
Responsável por atender em caráter de urgência e emergência uma gama de municípios (há relatos de pessoas que chegam a vir de Marabá-PA para serem atendidas) o Socorrão Municipal de Imperatriz é um hospital de alta e média complexidade e é ponto estratégico para toda a região banhada pelo Rio Tocantins no Maranhão.
Diante de tantas denúncias como a de Marlene, o promotor de Justiça, Tiago de Oliveira Costa Pires, titular da 5º Promotoria de Justiça Especializada na Defesa da Saúde, do Ministério Público do Maranhão, provocou uma audiência na Câmara Municipal de Imperatriz que teve a presença de diversas autoridades do poder público, do judiciário e da sociedade civil.
Na ocasião, mais de uma dezena de pessoas trouxeram à tona depoimentos emocionados de sofrimento e descaso do poder público municipal com a saúde de Imperatriz.
Para o vereador Flamarion Amaral (PCdoB) o que mais vem prejudicando os serviços é a falta de transparência nos recursos públicos da saúde. Formado em Enfermagem, ele aponta que a inexistência da prestação de contas é uma barreira para que todos se unam em prol da busca de recursos.
“Desafio a gestão municipal a enviar o quanto entra e quanto sai de gastos totais do município pois é dinheiro do povo”, afirmou. Também vereador de oposição, o Prof. Carlos Hermes (PCdoB) afirma que a problemática é culpa da inercia da prefeitura que não faz uma boa gestão. “Mais de 160 milhões de reais de verbas carimbadas só pra saúde entraram nos cofres da prefeitura em 2022 e ninguém sabe pra onde está indo este dinheiro,” disse ele.
Os vereadores de situação também apontam a questão da pandemia como agravante da estrutura do Socorrão, dentre outros fatores.
O maior hospital de portas abertas da região sul
A secretária adjunta de saúde de Imperatriz, Doralina Marques, afirma que é importante que se tenha audiência para que os poderes contribuam junto ao município.
“O Socorrão é o maior hospital de portas abertas da região sul do Maranhão, atualmente temos 40 leitos de UTI, 30 adultos e 10 infantis. Na questão estrutural, temos feitos reformas que seguem um cronograma, somos o único hospital da região que tem habilitado neurologia, um procedimento de alta complexidade. Nós temos uma demanda enorme dos estados do Pará e Tocantins, o hospital nunca parou”, disse.
Vistoria do MP
O Ministério Público do Maranhão chegou a realizar uma vistoria no último dia 3 de março e por meio de uma nota oficial classificou a situação das instalações do hospital como precárias, principalmente quanto à estrutura física do prédio. Na ocasião, presença do Procurador Geral de Justiça, Eduardo Nicolau.
A nota também diz que o prefeito Assis Ramos e a equipe do hospital apresentaram alguns pontos já resolvidos, conforme determinação da justiça, e reafirmaram que estão buscando verbas para cumprir as determinações e melhorar as condições do hospital.
Só boa vontade não basta
É sempre de bom tom destacar o trabalho sobre-humano que alguns profissionais da saúde fazem para cumprir uma rotina de enormes demandas. O carinho, otimismo destes nos dão forças pra lutar e comprovam de que a questão da saúde merece mais atenção dos gestores.
Ressalte-se que há profissionais ali que esforçam-se bastante para bem atender os pacientes e parentes.
Mas só esforço humano de alguns não basta. É preciso unir forças de todos (as) em prol da vida.
A audiência pública foi conduzida pela Juiza Dra. Ana Lucrécia, responsável pela 2ª Vara da Fazenda Pública que se pronunciou afirmando que as denúncias feitas serão protocoladas e cobradas do Poder Público.
Fonte: O Imparcial