Pastelin, o melhor pior jogador do mundo¹
Politica
Publicado em 20/02/2022

 Hélio, o Craque Pastelin

 *Boleslaw Daroszewski Júnior (Bolecho)

Por batismo, trouxe o nome Hélio dos Santos Albuquerque. Dos amigos, os mais chegados, recebeu o carinhoso apelido de “Pastelin”. Na infância, não revelou ter grandes talentos para os esportes, nem mesmo para o futebol, o mais praticado pelos brasileiros.

Embora fosse o futebol a sua grande paixão, nunca passou de um figurante. Nas formações dos times de peladas, em que se alternam nas escolhas dos jogadores, quase sempre era um dos últimos a ser selecionado, exceto, quando era ele o dono da bola e estivesse no campinho à frente da sua residência, que se tornou mais tarde o Posto Recife e, atualmente, a Agência do Banco do Brasil.

Mesmo tendo um bom preparo físico, desde garoto, correr e esforçar-se dentro de campo, fosse no poeirão ou em um campo gramado, nunca fora o seu forte. Preferia ficar na zona do agrião, pra lá e pra cá, como quem não quisesse nada, só esperando algum jogador adversário dar mole, para tomar-lhe a bola e partir rumo ao gol. Achava o campo grande demais, as distâncias longas, e como lhe faltavam habilidades, quase sempre dava tempo de algum defensor subtrair-lhe a bola e, mais uma vez, sua tentativa de sucesso para ser um goleador, era frustrada.

Se o treinador precisava fazer uma substituição, ele era um dos primeiros a serem sacados do time. Mas, como bom brasileiro, não desistia nunca. Continuava em sua saga, embora de pouco brilho, quase diária, de fazer um gol aqui, outro ali, nada que lhe garantisse ser titular e/ou artilheiro.

O tempo passou. Com ele, o campo que sempre lhe pareceu grande, mesmo quando garoto, agora, com a idade avançando, parecia que tinha se espichado ainda mais, ficado interminável. A distância da grande área até ao gol, parece que se tornara quilométrica e a trave parecia que havia encolhido e a bola aumentara de tamanho e de peso. Os chutes, que antes eram frequentes e, até por isso, alguns deles conseguiam transpor o goleiro, agora, eram cada vez mais

escassos e, devido às distâncias que tinham a percorrer, chegavam fracos e defensáveis... Se já não era lá grande coisa, quando jovem, agora, estava ficando praticamente impossível continuar se arrastando em campo.

Foi aí que lhe veio a ideia de virar o jogo, ou melhor, deixar de ser mais um... Migrou para o Futsal. Ali, a quadra era pequena, não havia impedimento, poderia ficar bem à vontade, como sempre sonhara. Encontrou sua praia. As frustrações, quanto à frequência entre um gol e outro, que duravam até semanas, terminaram. Os gols aconteciam diariamente. Fazia não apenas um, mas, quase sempre, mais do que dois. Devido à grande vivência com a banheira, virava-se muito bem no meio de tantas pernas e, quando davam bobeira, a bola já estava dormindo no fundo da rede.

De perna de pau, dessa sina, nunca se viu livre. Continuava o mesmo, só que obtendo resultados. Gol, seja em futebol de campo ou no futsal, é a razão de tanta gente correndo atrás de uma bola. Nisso, não se podia negar: “Pastelin” era especialista.

Não havia jogo para que ele não deixasse a sua marca. Não importando se era de bico, de canela, de joelho, de cabeça ou acidental, quando a bola resvalava nele e entrava. Os goleiros ficavam ensandecidos, pois, sua ausência de técnica (embora essa fosse a sua técnica), tornava-o imprevisível, “imarcável” pelos adversários, lembrando os Joões que o saudoso Garrincha deixava desnorteados pelos gramados.

Talvez, por ter realizado suas proezas na longínqua cidade de Araguatins, na Região do Bico do Papagaio, no extremo norte do Tocantins, os seus feitos não puderam ser certificados pelo Guinness World Records (Guinness Book), o livro dos recordes. Embora não se possa afirmar, também não se pode negar que “Pastelin” tenha sido o melhor pior jogador do mundo.

*Boleslaw Daroszewski Júnior, é Engenheiro Civil, Escritor e Historiador

Foto: Arquivo Pessoal do Craque Pastelin

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