PROADI-SUS estuda potencial cura para a anemia falciforme com uso de terapias gênicas
Politica
Publicado em 29/10/2021
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 100 mil pessoas vivem com a doença e maioria depende do sistema público de saúde para realizar o tratamento

A anemia falciforme é uma doença hereditária responsável por modificar células sanguíneas, alterando o formato das hemácias - as células vermelhas do sangue, encarregadas pelo transporte de oxigênio no corpo - originalmente em formato de disco para um formato similar ao de uma foice. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que 60 mil a 100 mil brasileiros convivem com a doença1 e, em sua maioria, essas pessoas dependem exclusivamente do SUS para o tratamento. Atualmente, a única terapia curativa disponível para a doença é o transplante alogênico - a doação de células da medula óssea de um doador saudável a um paciente -, no entanto, a falta de doadores limita muito o seu uso.

Num futuro próximo, as pessoas com anemia falciforme poderão ter uma alternativa de tratamento, com o uso de terapias gênicas, com potencial de cura da doença. No Brasil, há um projeto que estuda esta abordagem e faz parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), liderado pelo Hospital Israelita Albert Einstein em parceria com o Ministério da Saúde e o Hospital das Clínicas de São Paulo.

A iniciativa baseia-se na metodologia de correção das células-tronco e transplante autólogo - isto é, o transplante de células tronco da medula óssea do indivíduo para si próprio. As células-tronco da medula óssea são células que têm capacidade de dar origem às células sanguíneas, como hemácias ou células de defesa do corpo. Nesta técnica, as células-tronco são coletadas do sangue do paciente e enviadas ao laboratório, onde serão submetidas à correção genética, e transplantadas no próprio paciente. Estas células-tronco corrigidas darão origem a hemácias saudáveis, que não obstruirão os vasos sanguíneos do indivíduo, deixando-o livre das complicações da doença.

Os resultados desta etapa em animais irão validar que esta estratégia de terapia é segura e eficaz, para que, em seguida, sejam incluídos pacientes no estudo, assim como explica o Dr. Luiz Vicente Rizzo, médico pesquisador líder da iniciativa no hospital: "Em todas as pessoas com doença falciforme, as hemácias podem adquirir forma de foice e prejudicar sua saúde. Portanto, neste estudo, visamos corrigir as células-tronco para que as hemácias não adquiram mais o formato de foice, garantindo assim uma vida livre de complicações da doença falciforme. Este é um dos estudos no mundo que usa a correção das células para identificar uma potencial cura".

De acordo com a médica pesquisadora Dra. Karina Tozatto Maio, a iniciativa representa não só um grande avanço para a medicina, como também terá um impacto direto na qualidade de vida das pessoas que a portam. "A doença falciforme é uma doença negligenciada e que causa muitos problemas aos pacientes. O principal risco é a obstrução dos vasos sanguíneos, que podem ser entupidos pelas hemácias em forma de foice junto com outras células, resultando assim em anemia, fortes dores pelo corpo, AVC e infecções diversas, além de poder levar à morte precoce. Ter no Sistema Único de Saúde um tratamento eficaz e com potencial de cura é algo muito promissor, principalmente porque a maioria da população que convive com a doença depende do sistema público para se tratar", ressalta.

A pesquisa se encontra na fase pré-clínica, de desenvolvimento e validação de protocolos. Após essa etapa, os testes serão realizados em estudos clínicos - com a presença de pacientesOs estudos clínicos podem possibilitar, no futuro, uma avaliação de custos para o sistema público de saúde, com o intuito de verificar a aplicação do procedimento do ponto de vista econômico e indicar a melhor forma de implementá-lo no SUS.

Sobre o PROADI-SUS

O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde, PROADI-SUS, foi criado em 2009 com o propósito de apoiar e aprimorar o SUS por meio de projetos de capacitação de recursos humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de tecnologias, gestão e assistência especializada demandados pelo Ministério da Saúde. Hoje, o programa reúne seis hospitais sem fins lucrativos que são referência em qualidade médico-assistencial e gestão: Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Hcor, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento e Hospital Sírio-Libanês. Os recursos do PROADI-SUS advém da imunidade fiscal dos hospitais participantes. Os projetos levam à população a expertise dos hospitais em iniciativas que atendem necessidades do SUS. Entre os principais benefícios do PROADI-SUS, destacam-se a redução de filas de espera; qualificação de profissionais; pesquisas do interesse da saúde pública para necessidades atuais da população brasileira; gestão do cuidado apoiada por inteligência artificial e melhoria da gestão de hospitais públicos e filantrópicos em todo o Brasil. Para mais informações sobre o Programa e projetos vigentes no atual triênio, acesse o portal dos Hospitais PROADI-SUS.
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